janeiro 16, 2013

Pedro Fraga e Nuno Mendes – heróis esquecidos



Antes de aparecer a ditosa medalha da canoagem, Pedro Fraga e Nuno Mendes eram os heróis providenciais que relevavam com a sua excelência competitiva a apagada participação portuguesa nos Jogos Olímpicos de 2012. O double-scull lusitano, depois de um renhidíssimo apuramento pré-olímpico, foi subindo degraus em Londres até atingir a dimensão majestática da final olímpica. Ali, naquele patamar, todos são bons e a medalha ou não-medalha pode ser questão de circunstância. Obtiveram um fantástico, repito urbi et orbi, um fantástico quinto lugar que corresponde somente à melhor prestação de sempre do remo português.
Chegar ali foi o momento mais elevado de glória do remo português. Ali só chegam os eleitos. Por isso o Pedro e o Nuno, parafraseando Camões, já se libertaram da inexorável lei da morte. Mas parece que já foram esquecidos.
É natural.
Somos um país riquíssimo em prémios Nobel, em patentes científicas, em medalhas de ouro olímpicas. Só destas temos para aí umas 450, patentes científicas 35.634 e prémios Nobel 324. Por isso, tudo o que seja menos que isso é para deitar fora.
Deixem-me relatar-vos algumas acontecências duma vida que se cruzou várias vezes com estes dois heróis do Olimpo desportivo lusitano.
Agora a caminhar para o apogeu da vida, ao contrário de outros que dormem como bebés, vou tendo as minhas insónias. Como não quero entrar no caminho dos barbitúricos evito ficar na cama a rebolar-me de um lado para o outro, pego no meu kayak e aí vou disfrutando as luzes da cidade e a negrura a montante do rio Douro.
Agora, passados os tempos da competição desportiva ao mais elevado nível, encontro na canoagem não só a saúde mas também o prazer. Prazer que raramente está presente quando se treina 2 ou 3 vezes por dia na procura da excelência competitiva. O que move o atleta de alta competição não é o prazer mas sim uma coisa mais íntima e inefável a que podemos chamar – pulsão de transcendência.
Muitas vezes vou para o rio de noite e chego ainda de noite nas manhãs de inverno. E vejo-os, quais fantasmas a romperem o nevoeiro da matina, a iniciar as primeiras remadas do primeiro treino do dia. O Pedro e o Nuno, nos vários anos em que os vi crescer como desportistas, nunca esmoreceram na entrega ao treino estuante fiéis seguidores dos ditames dos seus treinadores. No Sport Clube do Porto cresceram como remadores e como homens, transformando-se em modelos para os jovens que todos os dias demandam o Douro na procura da realização dos sonhos que os nossos heróis materializaram.
A vida desta dupla brilhante não é fácil pois tem de conciliar treino e estudo. O Nuno Mendes e o Pedro Fraga foram meus alunos na Faculdade de Desporto e souberem sempre conciliar, obviamente com muito empenho e sacrifício, os treinos extenuantes e as suas exigências académicas. Há poucos que o conseguem. Ser desportista e estudar é fácil. Ser desportista ao mais elevado nível e realizar-se academicamente é que é mister de muito poucos. Eles têm conseguido articular com dignidade estas 2 vertentes da sua realização humana.
Por isso, hoje, quero homenageá-los. Dizer-lhes obrigado do fundo da alma. Afirmar-lhes que aqueles que entendem o desporto os não esquecem e têm orgulho no que eles conseguiram. O Pedro e o Nuno continuam, todos os dias, a desbravar os gélidos nevoeiros matinais, a superar as fraquezas do corpo e os desvios da alma porfiando no afã de atingirem a dimensão mais elevada do sonho. Continuando a tentar elevam-se em humanismo e valor desportivo e reforçam a sua expressão exemplar que a grei lusa deve respeitar e honrar. Os anos consecutivos de treino e dedicação, arrostando com incompreensões a vários níveis, nunca fizeram esmorecer o renovado empenho destes campeões. Não desistem, querem ir sempre mais longe, e nós, nós como país só temos de lhes dar as condições para continuarem a navegar na senda do êxito.
Para lá de tudo o que possam conseguir no futuro, o Nuno Mendes e o Pedro Fraga já se podem orgulhar de fazer parte da galeria dos poucos que convivem com a excelência desportiva. Só aos deuses se permite jogar nos campos do Olimpo. Eles já jogam nesse campo há muito tempo.

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U23  2x  Paulo Fidalgo João Dias